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sábado, 20 de outubro de 2012

698. Liberdade

Durante uns dias Sors ficou num belíssimo hospital psiquiátrico. A liberdade era tão grande que sentiu umas melhoras nos olhos. Sors podia andar nu, insultar quem quisesse, gritar, enfim, tinha descoberto a verdadeira liberdade. Sem convenções sociais, sem limites, sem diplomacia. Sors estava encantado, mas ao fim de dois dias de experiências já havia pouco para fazer e já não se sentia livre. É esse, aliás, o problema da liberdade: se é muita, tudo pode ser tudo, não há limites para nada, não há obstáculos, e o aborrecimento instala-se. Sors, nessa altura, pensou na importância das fronteiras. Fazem com que não percamos a nossa identidade. A liberdade é o maior inimigo da identidade e uma pessoa tem de arranjar um equilíbrio entre ambas.

Afonso Cruz, O Pintor debaixo do Lava-Louças, Alfragide, Caminho, 2011, p. 114

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