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sábado, 28 de julho de 2012

quarta-feira, 25 de julho de 2012

659. Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,

Ilustração de
Sara Sánchez Alonso
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos…a tua mão na minha…

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas de um beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…

Florbela Espanca

terça-feira, 24 de julho de 2012

658. Descanso

Eu ainda preciso de mais descanso saudável para trabalhar no meu máximo. Minha saúde é meu capital principal e eu tenho e quero administrá-la inteligentemente.

Ernest Hemingway

domingo, 22 de julho de 2012

656. O livro de bolso azul

Oksana Grineva, O Livro de Bolso Azul

655. Paciência é uma virtude

Paciência é uma virtude
que se tem, mas que se gasta
quando se toma a atitude
de, para alguém, dizer: – Basta!
-
Antônio José Barradas Barroso

654. José Saramago

653. Momento especial

Diane Leonard, Momomento Especial

As crianças tornam-se leitoras no colo de seus pais.

Emilie Buchwald

653. Depois do branco

Quem sabe o que na página se esconde
e se dentro do branco está um muro
e se depois do muro não há onde
e se depois do branco é tudo escuro?

Quem sabe o que pode acontecer
quando ao verso já escrito outro se junta
e tudo está no verso por escrever
e o que se escreve é só uma pergunta?

Quem sabe o que se vê e não se vê
se por dentro do branco apenas cabe
esse nome que nunca ninguém lê
e o verso que se sabe e não se sabe?


Manuel Alegre, Nada está escrito, Lisboa: Ed. Dom Quixote, 2012

sexta-feira, 20 de julho de 2012

651. Escritor

 Tive de aprender, como Balzac aprendera, que temos de escrever volumes, antes de assinarmos uma obra. Tive de aprender, como rapidamente aprendi, que temos de abdicar de tudo e não fazer outra coisa senão escrever, temos de escrever e escrever e escrever, mesmo que todos nos digam para desistirmos, mesmo se ninguém acreditar em nós. Talvez o façamos precisamente porque ninguém acredita; talvez o verdadeiro segredo esteja em fazer as pessoas acreditarem.

Henri Miller, Trópico de Capricórnio, Lisboa, Editorial Presença, 2009, p.33.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

647. Sede de Descoberta e Aventura

É uma maravilha sempre nova e duma comovente beleza a sede de descoberta e de conquista dum jovem que erra à aventura, livre pela primeira vez dos condicionalismos da escola, e se orienta para os horizontes sem fim do espírito; ainda não viu murchar nenhuma ilusão, ainda não sentiu aflorá-lo nenhuma dúvida sobre a sua inesgotável capacidade de entusiasmo nem o infinito do mundo espiritual.

Hermann hesse, O Jogo das Contas de Vidro,p.91

domingo, 15 de julho de 2012

646. A Verdade

O Mestre nunca o ouvira falar com tanta violência. Continuou a andar durante um bocado e então disse:
— A verdade existe, meu caro! Mas a «doutrina» que desejas, o ensinamento absoluto que confere a sabedoria perfeita e única, não existe. Tão-pouco deves ansiar por um ensinamento perfeito, meu amigo, mas antes pelo aperfeiçoamento de ti próprio. A divindade está em ti e não nas ideias e nos livros. A verdade vive-se, não se ensina de cátedra. Prepara-te para a luta, Josef Knecht, vejo claramente que já começou.

Hermann hesse, O Jogoa das Contas de Vidro, p.70.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

642. Portugal

Este país (Portugal) preocupa-me, este país dói-me. E aflige-me a apatia, aflige-me a indiferença, aflige-me o egoísmo profundo em que esta sociedade vive. De vez em quando, como somos um povo de fogos de palha, ardemos muito, mas queimamos depressa."

José Saramago

641. A Divina ilha de calipso

A divina ilha, com os seus rochedos de alabastro, os bosques de cedros e tuias odoríferas, as messes eternas dourando os vales, a frescura das roseiras revestindo os outeiros suaves, resplandecia, adormecida na moleza da sesta, toda envolta em mar resplandecente. Nem um sopro dos zéfiros curiosos, que brincam e correm por sobre o arquipélago, desmanchava a serenidade do luminoso ar, mais doce que o vinho mais doce, todo repassado pelo fino aroma dos prados de violetas. No silêncio, embebido de calor afável, eram de uma harmonia mais embaladora os murmúrios de arroios e fontes, o arrulhar das pombas voando dos ciprestes aos plátanos, e o lento rolar e quebrar da onda mansa sobre a areia macia. E nesta inefável paz e beleza imortal, o subtil Ulisses, com os olhos perdidos nas águas lustrosas, amargamente gemia, revolvendo o queixume do seu coração...

Eça de Queirós, « A Perfeição », in Contos, Lisboa, Bertrand Editora, [2010], p.455-456

terça-feira, 10 de julho de 2012

640. Civilização

De resto, que importa bendizer ou maldizer da vida? Afortunada ou dolorosa, fecunda ou vã, ela tem de ser vivida. Loucos aqueles que, para a atravessar, se embrulham desde logo em pesados véus de tristeza e desilusão, de sorte que na sua estrada tudo lhes seja negrume, não só as léguas realmente escuras, mas mesmo aquelas em que cintila um sol amável. Na Terra tudo vive — e só o homem sente a dor e a desilusão da vida. E tanto mais as sente, quanto mais alarga e acumula a obra dessa inteligência que o torna homem e que o separa da restante Natureza, im-pensante e inerte. É no máximo da civilização que ele experimenta o máximo de tédio. A sapiência, portanto, está em recuar até esse honesto mínimo de civilização, que consiste em ter um tecto de colmo, uma leira de terra e o grão para nela semear. Em resumo, para reaver a felicidade é necessário regressar ao Paraíso — e ficar lá, quieto, na sua folha de vinha, inteiramente desguarnecido de civilização, contemplando o anho aos saltos entre o tomilho, e sem procurar, nem com o desejo, a árvore funesta da Ciência! Dixi!
Eça de Queirós, «Civilização», in Contos, Lisboa, Bertrand Editora, [2010], p. 332

segunda-feira, 9 de julho de 2012

639. Leitura


638. Leitoras

Milton Avery, Poetry Reading

Milton Avery, Reclining Reader

637. Por Delicadeza

Bailarina fui
Mas nunca dançei
Em frente das grades
Só três passos dei

Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dançei no avesso
Do tempo bailado

Dançarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei

Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado

Bailarina fui
Mas nunca bailei
Minha vida toda
Como cega errei

Minha vida atada
Nunca a desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi:

«Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi minha vida»


Sophian de nello Breyner Andresen

domingo, 8 de julho de 2012

636. [Leitoras na praia]

Pintura de Brenda Burke

635. Inspiração

Eu vivo à espera de inspiração com uma avidez que não dá descanso. Cheguei mesmo à conclusão de que escrever é a coisa que mais desejo no mundo, mesmo mais que amor.

Clarice Lispector

sábado, 7 de julho de 2012

634. [ À beira mar]

Pintura de  Vicente Romero redondo

633. Descanso

 
pintura de BAO ZHEN


Apenas desejo a tranquilidade e o descanso, que são os bens que os mais poderosos reis da terra não podem conceder a quem os não pode tomar pelas suas próprias mãos.

René Descartes

632. Leitora

Pintura de AN HE

631. Leitora

Pintura de Mikhail Nesterov!

630. Os livros não matam a fome,

Os livros não matam a fome,
não suprimem a miséria,
não acabam com as desigualdades
e com as injustiças do mundo,
mas consolam as almas,
e fazem nos sonhar.

Olavo Bilac

quinta-feira, 5 de julho de 2012

628. Cinco Palavras Cinco Pedras

Antigamente escrevia poemas compridos
Hoje tenho quatro palavras para fazer um poema
São elas: desalento prostração desolação desânimo
E ainda me esquecia de uma: desistência
Ocorreu-me antes do fecho do poema
e em parte resume o que penso da vida
passado o dia oito de cada mês
Destas cinco palavras me rodeio
e delas vem a música precisa
para continuar. Recapitulo:
desistência desalento prostração desolação desânimo
antigamente quando os deuses eram grandes
eu sempre dispunha de muitos versos
Hoje só tenho cinco palavras cinco pedrinhas


Ruy Belo

627. LeituraMarta Farina

Ilustração de Marta Farina

segunda-feira, 2 de julho de 2012

624. Portugal Futuro

O portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e lhe chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro.

Ruy Belo