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sábado, 6 de outubro de 2012

678. Confissões de um humorista

por O. Henry



Houve um estádio indolor de incubação que durou vinte e cinco anos, e depois tive um surto e as pessoas disseram que eu era o supra-sumo.
Mas chamaram-lhe humor em vez de sarampo.
Os empregados do armazém compraram um tinteiro de prata para o sócio mais velho quando fez cinquenta anos. Apinhámo-nos no gabinete dele para lho dar. Tinham-me escolhido para porta-voz e fiz um pequeno discurso que andava a preparar há uma semana.
Foi um sucesso. Era todo cheio de trocadilhos e epigramas e reviravoltas engraçadas que fizeram vir abaixo a casa, de si bastante sólida, na linha da venda de ferragens por atacado. O Marlowe propriamente dito chegou a sorrir e os empregados aproveitaram a deixa e riram à gargalhada.
A minha reputação como humorista data das nove e meia dessa manhã. Os meus colegas passaram semanas a avivar a chama do meu amor-próprio. Um a um vieram dizer-me que o meu discurso fora incrivelmente bem feito, meu caro, e explicaram-me com todo o cuidado cada uma das minhas piadas.
A pouco e pouco percebi que se esperava que eu continuasse. Outros podiam bem falar, cheios de bom senso, de negócios e dos tópicos do dia, mas de mim exigia-se uma coisa brincalhona e airosa.
Esperava-se que eu dissesse piadas sobre cerâmica e aligeirasse os granitos com graçolas. Era o segundo contabilista, e se não apresentasse um balancete com uma coisa cómica ao pé das somas ou não encontrasse motivo de riso na factura duns arados, era uma decepção para os outros empregados. Gradualmente, a minha fama espalhou-se, e tornei-me numa personagem castiça. A nossa cidade era suficientemente pequena para que isto fosse possível. O jornal diário citava-me. Eu era indispensável nas reuniões sociais.
Acredito que tivesse uma graça razoável e alguma facilidade na resposta rápida e espontânea. É um dom que cultivei e aperfeiçoei pela prática. E a natureza deste dom era bondosa e cordial, não ia para o sarcasmo nem ofendia os outros. As pessoas começavam a sorrir quando me viam aparecer, e quando chegávamos perto, já eu trazia pronta a palavra que alargava num riso o sorriso delas.
Casara cedo. Tínhamos um menino de três anos que era um encanto e uma menina de cinco. Como é natural, vivíamos numa casinha coberta de vinha e éramos felizes. O meu ordenado como contabilista no negócio das ferragens mantinha à distância os males que derivam da riqueza supérflua.
Escrevera várias vezes piadas e peças de humor que considerei especialmente felizes e enviara-as a certos jornais que publicam essas coisas. Todas foram imediatamente aceites. Houve chefes de redacção que escreveram a pedir mais colaboração.
Um dia recebi uma carta do editor de um famoso semanário. Sugeria que eu lhe mandasse um artigo humorístico para encher uma coluna que vagara, insinuando que passaria a contribuição regular caso o trabalho fosse satisfatório. Assim fiz, e ao fim de duas semanas ofereceu-me um contrato de um ano, por uma quantia bastante superior à que me pagavam na empresa de ferragens.
Fiquei deliciado. A minha mulher já me coroara, na cabeça dela, com o louro imperecível do êxito literário. Nessa noite, ao jantar, comemos rissóis de lagosta e bebemos uma garrafa de vinho de amora. Era a oportunidade de me libertar da servidão. Tive com Louisa uma conversa longa e séria. Concordámos que eu devia deixar o meu lugar no armazém, e dedicar-me ao humor. Demiti-me. Os meus colegas ofereceram-me um banquete de despedida. O discurso que ali fiz foi coruscante. Veio publicado na íntegra na Gazeta. Na manhã seguinte acordei e olhei para o relógio.
— Já é tarde, raios! — exclamei, e precipitei-me para apanhar a roupa. Louisa lembrou-me de que eu já não era um escravo das ferragens e dos fornecimentos aos construtores civis. Agora era humorista profissional.
Depois do pequeno-almoço levou-me toda orgulhosa ao quartinho ao pé da cozinha. Tão querida! Lá estavam a minha mesa e cadeira, bloco de notas, tinta e a bandeja do cachimbo. E todos os sinais exteriores do autor — o aipo com rosas acabadas de apanhar e madressilva, o calendário do ano passado na parede, o dicionário e um saquinho cheio de chocolates para ir petiscando nos intervalos da inspiração. Tão querida!
Sentei-me para trabalhar. O papel de parede tem uns arabescos, ou umas odaliscas ou — talvez — uns trapézios. Fixei os olhos numa das figuras. Pus-me a pensar em humor.
Sobressaltou-me uma voz — a de Louisa.
— Se já não tens muito que fazer, querido — dizia vem almoçar.
Olhei para o relógio. Sim, cinco horas ceifadas pela gadanha sinistra. Fui almoçar.
— Não podes trabalhar tanto logo de início — disse Louisa. — Goethe, ou terá sido Napoleão?, disse que chegavam cinco horas por dia de esforço mental. Porque não me levas a mim e aos meninos a passear ao bosque hoje à tarde?
— Estou um bocado cansado — admiti. E fomos ao bosque.
Mas cedo lhe apanhei o jeito. Passado um mês já eu fornecia texto com a mesma regularidade dos carregamentos de ferragens.
E tive sucesso. A minha coluna no semanário teve algum impacto, e na conversa de café entre críticos, referiam-se-me como uma lufada de ar fresco nas hostes dos humoristas. Aumentei bastante os rendimentos contribuindo para outras publicações.
Aprendi os truques do ofício. Conseguia pegar numa ideia engraçada, fazer uma piada de duas linhas, e ganhar um dólar. Punha-lhe umas suíças postiças, servia-a fria como quadra, duplicando-lhe o valor na produção. Virava-a do avesso e juntando-lhe um cheirinho de rima quase nem a reconheciam como vers de sociétê calçado de novo e com uma ilustração de moda.
Comecei a poupar dinheiro e comprámos tapetes novos e um órgão de sala. Os meus conterrâneos começaram a olhar-me como cidadão de alguma importância em vez do pateta alegre que eu fora enquanto trabalhava nas ferragens.
Passados cinco ou seis meses, a espontaneidade desapareceu do meu humor. Repentes e tiradas droláticas já não me saíam todas despreocupadas pela boca fora. Por vezes, faltava-me o assunto. Dei comigo à coca a ver se apanhava ideias disponíveis nas conversas dos amigos. Às vezes roía o lápis e ficava pasmado a olhar para o papel de parede horas a fio, tentando construir uma alegre bolhinha de graça espontânea.
E depois tornei-me numa harpia, um Moloch, um Jonas, um vampiro, para os meus conhecidos. Ansioso, desvairado, ávido, eu era, no meio deles, um autêntico desmancha-prazeres. Era só cair-lhes da boca um dito inteligente, uma comparação espirituosa, uma frase mordaz e eu saltava como um cão a apanhar um osso. Não ousava confiar na memória; mas virando-me um pouco de lado, culpado e mesquinho, tomava notas no meu sempre presente bloco de apontamentos ou no punho da camisa, para usar mais tarde.
Os amigos olhavam-me com pena e pasmo. Não era o mesmo homem. Onde outrora lhes fornecera entretenimento e alegria, agora caía-lhes em cima como ave de rapina. De mim já não levavam gracinhas só pelos sorrisos deles. Eram demasiado preciosas. Não me podia dar ao luxo de oferecer gratuitamente os meios da minha subsistência. Era uma raposa lúgubre louvando o canto dos meus amigos corvos para que deixassem cair dos bicos os pedaços de humor que eu cobiçava.
Quase toda a gente me evitava. Cheguei a esquecer-me de como era fazer um sorriso, e nem isso pagava pelos ditos de que me apropriava. Gente, lugares, momentos, temas, nada estava isento da minha pilhagem de material. Até na igreja, a minha fantasia amoral corria à caça, pelas coxias solenes e pelos pilares, em busca do saque.
Se o pastor falava na doxologia, eu começava logo: "Doxologia-Socodologia-Socodólogo-Metro-Meter-o".
O sermão passava-me pela peneira mental, e os preceitos morais escorriam despercebidos, se eu vislumbrasse a vaga possibilidade de um trocadilho ou de um bon mot. Os hinos mais solenes do coro eram mero acompanhamento dos pensamentos em que concebia novas maneiras de glosar velhas piadas sobre a rivalidade entre a soprano, o tenor e o baixo.
A minha própria casa passou a ser terreno de caça. A minha mulher é uma criatura muitíssimo feminina, cândida, simpática e impulsiva. No passado, deliciava-me conversar com ela e as suas ideias eram fonte de prazer constante. Agora explorava-a. Era uma mina de ouro dessas contradições engraçadas e amorosas que distinguem a mente feminina.
Comecei a fazer negócio com as pérolas de in-sabedoria e humor que deviam ter enriquecido apenas o sagrado recinto do lar. Com manha diabólica, encorajava-a a falar. Sem desconfiar, ela punha o coração nas mãos. Na fria, conspícua, baixa letra impressa, eu oferecia-o ao olhar público.
Qual Judas literário, beijava-a e traía-a. Por moedas de prata vestia-lhe as doces confidências com a roupa de baixo e os folhinhos da patetice e fazia-as dançar na praça.
Querida Louisa! Houve noites em que me debrucei sobre ela, cruel como um lobo sobre o tenro cordeiro, atento até às palavras murmuradas no sono, esperando apanhar uma ideia para a lavra esforçada do dia seguinte. Mas o pior está para vir.
Valha-me Deus! A seguir, enterrei fundo as presas nos ditos fugidios dos meus pequeninos.
Guy e Viola eram duas fontes brilhantes de pensamentos e ditos infantis e insólitos. Havia procura deste género de humor e eu fornecia regularmente uma secção duma revista com "Divertidas Fantasias da Infância". Punha-me a espreitá-los, como um índio espia um antílope. Escondia-me atrás dos sofás e das portas, ou gatinhava pelos arbustos no pátio e punha-me a escuta enquanto eles brincavam. Tinha todas as qualidades da harpia, excepto o remorso.
Uma vez, quando estava sem ideias nenhumas e tinha de enviar o texto pelo correio seguinte, cobri-me de folhas caídas no jardim, onde sabia que vinham brincar. Não posso acreditar que o Guy soubesse do meu esconderijo, mas mesmo que soubesse, detestaria ter de o censurar por deitar fogo às folhas, causando a destruição do meu fato novo, e quase cremando um progenitor.
Cedo os meus próprios filhos começaram a fugir de mim como da peste. Muitas vezes, quando me chegava a eles pé ante pé qual melancólico ladrão de sepulturas, ouvia-os a dizer um para o outro:
— Lá vem o pai — e apanhavam os brinquedos e iam a correr esconder-se num lugar mais seguro. Desgraçado miserável que eu era!
E, no entanto, estava bem, financeiramente. No primeiro ano poupara mil dólares e tínhamos vivido com conforto. Mas a que preço! Não tenho bem a certeza do que seja um pária, mas eu era tudo o que essa palavra parece indicar. Não tinha amigos, nem gozava a vida. Sacrificara a felicidade da minha família. Era uma abelha, sugando mel sórdido das mais belas flores da vida, temido e ostracizado por causa do meu ferrão.
Um dia, um homem falou comigo, com um sorriso amável e simpático. Há meses que tal não me acontecia. Passava eu no estabelecimento funerário de Peter Heffelbower. Peter estava à porta e cumprimentou-me. Parei, com o coração estranhamente apertado pelo cumprimento dele. Convidou-me a entrar.
O dia estava frio e chuvoso. Fomos para a sala das traseiras, onde havia um pequeno fogão aceso. Veio um cliente e o Peter deixou-me sozinho um bocado. De repente, senti-me tomado de um sentimento novo — uma calma maravilhosa, uma satisfação, e olhei em volta. Havia filas de caixões de roseira brilhantes, panos mortuários, tripeças, plumas de essa, flâmulas negras, e toda a parafernália do solene ofício. Aqui havia paz, ordem, silêncio, era o lugar próprio das reflexões graves e dignas. Aqui, à beira da vida, havia um nichozinho dominado pelo espírito do eterno descanso.
Quando entrei, as loucuras do mundo abandonaram-me à porta. Não senti qualquer inclinação para me esforçar por uma ideia humorística sobre tal aparato sombrio e solene. O meu espírito parecia distender-se para o grato repouso num divã recamado de pensamentos delicados.
Há um quarto de hora, eu era um humorista abandonado. Agora, era um filósofo, cheio de serenidade e à-vontade. Encontrara onde me refugiar do humor, da ardente perseguição do tímido motejo, da caça degradante à piada arquejante, da inquieta busca da resposta pronta.
Não conhecia bem Heffelbower. Quando ele voltou, deixei-o falar, temendo que ele pudesse ser uma nota dissonante na doce harmonia de hino fúnebre do seu estabelecimento.
Mas não. Estava em harmonia. Dei um longo suspiro de felicidade. Nunca encontrara conversa de homem mais magnificamente maçadora do que a do Peter. Comparada com ela, o mar Morto é um gaiser. Nunca centelha ou vislumbre de graça lhe prejudicavam as palavras. Lugares-comuns, banais e abundantes como as amoras, fluíam-lhe dos lábios, causando tanta agitação como as notícias da semana passada. Um pouco trémulo, experimentei nele um dos meus ditos mais afiados. Caiu ali mesmo, sem efeito, a ponta quebrada. Passei a adorar o homem.
Duas ou três noites por semana ia discretamente ter com o Heffelbower e divertia-me à grande na sala das traseiras. Era a minha única alegria. Comecei a acordar cedo e a trabalhar rapidamente, para poder passar mais tempo no meu porto de abrigo. Era só ali que podia largar o hábito de extrair ideias humorísticas de tudo o que me rodeava. A conversa de Peter não me deixava uma única aberta, tivesse eu tentado.
Sob tal influência, o meu estado de espírito melhorou. Era a folga do trabalho, de que todo o homem precisa. Surpreendi um ou dois dos meus antigos amigos com um sorriso e uma frase alegre ao passar por eles na rua. E por vezes fiz pasmar a família quando consegui relaxar o suficiente para fazer uma observação jocosa na presença deles.
Estivera tanto tempo obcecado pelo incubo do humor que agarrava as minhas horas de folga com o brio de um rapazinho da escola.
O trabalho começou a ressentir-se. Já não era o sofrimento e o fardo que antes fora. Muitas vezes assobiava à mesa de trabalho, e escrevia com muito mais fluência. Acabava as tarefas com impaciência tão ansioso por chegar ao salutar refúgio, como um bêbedo a taberna.
A minha mulher passou horas angustiada especulando sobre onde é que eu passaria as tardes
Achei melhor não lhe dizer; as mulheres não compreendem estas coisas. Coitada! Ainda apanhou um susto.
Um dia trouxe para casa uma pega de prata de um caixao para pesa-papéis e uma pluma muito bonita e macia tirada duma essa para limpar o pó aos meus papéis.
Gostava de as ver na secretária, e pensar na adorada sala do Heffelbower. Mas Louisa encontrou-as e gritou de horror. Tive de a consolar com uma desculpa tosca mas vi nos olhos dela que o preconceito não desaparecera' E tive de tirar dali os objectos, e muito rapidamente
Um dia, Peter Heffelbower pôs-me à frente uma tentaçao que me fez tresvairar. Naquele seu modo sensato e monótono, mostrou-me os livros e explicou que os lucros e o negócio cresciam rapidamente. Pensava arranjar um sócio com algum dinheiro. Preferia-me a mim, de toda a gente que conhecia. Quando saí de casa dele nessa tarde, já o Peter tinha o cheque dos mil dólares que eu tinha no banco, e eu era sócio dele no negócio dos enterros.
Fui para casa num sentimento de alegria delirante, e uma certa dose de dúvida. Tinha pavor de contar à minha mulher. Mas ia nas nuvens. Desistir da escrita de peças humorísticas, morder mais uma vez a polpa da vida, em vez de a espremer por umas gotitas de amargo sumo, para divertir o público — que bênção!
À mesa do jantar, Louisa deu-me umas cartas que tinham chegado na minha ausência. Algumas continham manuscritos rejeitados. Desde que começara a ir a casa do Heffelbower que os meus textos vinham devolvidos com frequência alarmante. Nos últimos tempos, despachava piadas e artigos com grande fluência. Antes disso, trabalhara como quem assenta tijolo, devagar e com sofrimento.
Abri logo uma carta do editor do semanário com que tinha contrato. Ainda dependíamos em grande medida dos cheques desse artigo semanal. A carta era assim:

Exmo. Senhor
Como sabe, o nosso contrato anual expira este mês. Embora lamentando a necessidade de o fazer, temos a dizer que não queremos renovar o contrato para o próximo ano. Estávamos muito satisfeitos com o seu estilo de humor, que parece ter deliciado uma grande quantidade de leitores.
Mas nos últimos dois meses observámos uma nítida queda na sua qualidade. Os seus primeiros trabalhos demonstravam uma corrente espontânea, fácil e natural de humor e de graça. Ultimamente, ele é trabalhado, artificial epouco convincente, prova dolorosa de trabalho árduo e repetitivo.
Lamentando mais uma vez não poder continuar a aceitar as suas contribuições, somos sinceramente
O Editor

Entreguei a carta à minha mulher. Leu-a e ficou com uma cara tristíssima e de lágrimas nos olhos.
— Malvado do velho! — disse, indignada. — As tuas peças são tão boas como eram. E não te levam nem metade do tempo a fazer.
Depois, acho eu, Louisa deve ter pensado nos cheques que iam acabar.
— Oh, John — gemeu ela o que é que vais fazer? Em resposta, levantei-me e pus-me a dançar a polka à roda da mesa. Louisa deve ter pensado que a preocupação me enlouquecera; e as crianças devem ter tido esperança de que assim fosse, porque se lançaram atrás de mim exultantes, imitando os meus passos. Agora já me parecia mais com o companheiro de brincadeira que antes fora.
— Hoje vamos todos ao teatro! — gritei. — Nada menos. E ceamos tarde, como loucos, e portamo-nos mal no restaurante Palace. Olari-lari-lolela!
E depois expliquei a minha alegria dizendo que era sócio de uma próspera agência funerária e que os artigos humorísticos podiam bem ir enfiar a cabeça em sacos de serapilheira ou enterrar-se nas cinzas, a ver se eu me ralava. Com a carta do editor na mão para justificar o que eu fizera, a minha mulher não pôde avançar com nenhuma objecção, fora algumas, mas brandas, e baseadas na incapacidade feminina para apreciar uma coisa tão boa como a sala das traseiras de Peter Hef-não, de Heffelbower & Cia, Agência Funerária.
Em conclusão, direi que hoje não encontram nesta cidade homem mais amado, jovial, cheio de ditos espirituosos, do que eu. As minhas piadas são novamente faladas e citadas; voltei a ter prazer nas confidências da minha mulher sem um pensamento mercenário, enquanto Guy e Viola brincam a meus pés, espalhando pérolas de humor infantil sem medo do homem medonho que as atormentava e perseguia como um cão, de bloco de notas em punho.
O negócio floresceu muito. Faço a contabilidade e tomo conta da agência, enquanto Peter trata das coisas no exterior. Diz que a minha ligeireza e bom humor haviam de tornar qualquer funeral num verdadeiro pandemônio.

O. Henry, «Confissões de um Humorista» in Ficçõesde humor. Revista de contos, Lisboa,Tinta Permanente, [2003], pp. 37-41. (Tradução de Luísa Costa Gomes)

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