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domingo, 14 de outubro de 2012

689. Agressão

A sua testa tem a marca de uma agressão com um jarro de vidro, mas é por dentro que os jarros de vidro magoam mais, e os estalos nas orelhas, e os murros, e os pontapés. Dão cabo do interior das pessoas como uma doença. Batem por fora, mas começam a afundar-se e a entranhar-se dentro das veias, nos pensamentos, nos intestinos, nos pulmões, no fígado. Crescem com as unhas e com os cabelos e com os ossos. Uma pessoa fica com metástases das agressões por todo o lado, com a alma escurecida apesar da luz fluorescente da cozinha, essa luz que nos deixa com cara de doentes.

Afonso Cruz,  «Quando as joaninhas de plástico deixam de falar»» in Afonso Cruz et allii, Isto não é um conto, Lisboa, Associação Link, 2012, p. 86..

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