— Nenhum império sobrevive à emoção. Criam-se fronteiras, mas são artifícios, linhas inventadas que podem impedir a livre circulação de bens e pessoas, mas não impedem que as emoções as rompam.
Sors, encostado à ombreira da porta da biblioteca, perguntou-lhe onde lera isso.
— Em jornal nenhum — respondeu Wilhelm. — Para compreender o império, devemos olhar para um homem qualquer que passe na rua. E veremos que, por mais racional, por mais fronteiras que ele coloque para agir corretamente, mais tarde ou mais cedo sucumbirá à emoção. Se um homem tiver fome, o seu estômago tomará o poder. Nenhuma cabeça, nenhuma ordem será capaz de contrariar a barriga vazia. O império vai ruir.
Afonso Cruz, O Pintor debaixo do Lava-Louças, Alfragide, Caminho, 2011, p.63.
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