Um livro escreve-se uma e outra vez
Um livro se repete. O mesmo livro.
Sempre. Ou a mesma pergunta. Ou
talvez
o não haver resposta.
Por isso um livro anda à volta sonbre si mesmo
um livro o poema a prosa a frase
tensa
a escrita nunca escrita
a que não é senão o ritmo
subterrâneo
o anjo oculto o rio
o demónio azul.
Um livro. Sempre.
Um livro que se escreve não se escreve
ou se rescreve junto
ao mesmo mar.
Um livro. Navegação por dentro
errância que não chega a nenhuma Ítaca.
Um livro se repete. Um livro
essa pergunta
incognoscível código de ser.
Metáfora de cornos e pés-de-cabra.
Um livro. Esse buscar
coisa nenhuma.
Ou só espaço
o grande interminável espaço em branco
por onde corere o sangue a escrita a vida.
Um livro.
Manue Alegre, Livro do português Errante (Pub. Dom Quixote, 2009)
*
Ilustração: hard Writers Career, de Emiliano Ponzi, publicada no Times Los Angeles
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